Anuário da Indústria de Implementos Rodoviários 2018
24 Prejudicou o setor de que forma? Deturpou nosso ciclo de produção e de vo- lumes. Especialmente em 2016 e 2017, o grande problema das empresas para voltarem às com- pras era a falta de capital de giro. Não adiantava financiar 60% ou 70%, porque faltava o restan- te. O tomador até tinha crédito, mas não tinha o giro para operação. Por isso pedíamos que o BNDES voltasse aos 100% financiados para as PMEs especialmente. De 2016 para 2017 fomos a primeira voz a pedir uma linha de crédito com taxa fixa. Porque o segundo ponto de inseguran- ça para o tomador de crédito médio e pequeno é não saber quanto vai pagar por mês. O setor encolheu nesse período de seis anos? A Anfir tem hoje mais de mil empresas associadas e afiliadas. Os dois grupos encolhe- ram. No caso das associadas, uns 10%. Algumas porque não existemmais e outras estão inadim- plentes e não estão mais em condições de serem enquadradas. Sentimos também a diminuição das afiliadas no geral. O que setor tirou de lição desse período de recordes e depois de forte queda nos anos seguintes? Costumo dizer que a crise foi uma con- sultoria divina, a mais cara para o empresário pagar, mas que tem um legado eterno. Deixa a condição de sermos mais empresários do que éramos antes da crise. Na história do nosso segmento não se encontra nenhum grupo em- presarial que fez um plano de negócios para in- gressar nele. São empresas familiares, pessoas que nasceram em ferrarias, que empreenderam, todas iniciaram do nada, todas com capital zero. Aceitaram desafios dia após dia, passaram por tudo em termos de inflação, moedas... Esta não foi uma crise tão maior do que as outras, mas tem um aspecto muito relevante que é o de ter surgido após um crescimento muito abrupto. Entre 2009 e 2012, os implementadores en- tenderam que tinham uma chance para apro- veitar. Só que vinham da experiência desde sua criação: emoção, sangue nas veias. Faziam cem produtos entre reboques e semirreboques e precisavam fazer duzentos pois tinham clientes querendo comprar. Tinham dinheiro? Não. Mas o crédito era abundante e foram levados pelo canto de sereia. Mas era verdadeiramente uma oportuni- dade de crescimento, não? Só que não sustentável. E a maioria das pessoas não estava preparada para enxergar isso. Eram mais operários do negócio do que empresários. E para não perderem essa janela, foram aos bancos para sustentar o crescimen- to. Quase todos se alavancaram para capital de giro, para peças, para maquinário ou ampliação de fábrica. Aí, de 2015 para 2016, a desacelera- ção foi de 100 km/h para zero e perceberam a fragilidade. O mercado parou de comprar, caiu dois terços e os bancos se fecharam para crédi- to. A partir de então as empresas trabalharam para se manter vivas, fazer reduções possíveis e ENTREVISTA | INTERVIEW | ENTREVISTA © Cesar Hamanaka | Ponto & Letra A crise foi uma consultoria divina, a mais cara para o empresário pagar, mas que tem um legado eterno. Deixa a condição de sermos mais empresários do que éramos antes.
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