34 ECONOMIA | ECONOMY | ECONOMÍA O agronegócio é o único setor que segue crescendo no Brasil, porque depende mais de exportações do que do mercado interno. O Itaú BBA espera avanço de 1,3% no PIB da agropecuária, compensando parte da queda dos outros setores econômicos. Mas também esse porcentual poderia ser melhor, em torno de 5%, sem o problema da seca que atingiu a região Sul e partes do Sudeste e Centro-Oeste, gerando perdas importantes na safra de grãos e outros produtos agrícolas. “Juros, emprego e crédito vão na contramão do crescimento. Só sobrou o agronegócio, porque o mercado externo segue comprador, especialmente a China, ainda que em menor velocidade. Mesmo assim, alta nos preços das commodities agrícolas internacionais, problemas de seca e abastecimento são fatores que pressionam a inflação aqui dentro”, pondera Tereza Fernandez. Inflação descontrolada O descontrole da inflação em 2021 foi contratado ainda em 2020 pela alta dos preços do atacado em 2020, com aumentos generalizados de insumos industriais na casa dos 50%, que este ano já pararam de subir com tanta intensidade, mas chegaram com força ao consumidor. O IPCA de 12 meses saiu de 4% ao fim de 2020 e subiu para quase 10,4% em janeiro de 2022. Como as forças que empurraram o índice inflacionário para cima demoram a se dissipar, o mercado já espera IPCA acima de 5,4% ao fim de 2022. O principal fator inflacionário de 2021 segue ativo este ano: a alta dos combustíveis (diesel, gasolina, etanol e GLP), responsável por quase metade do IPCA anual, continua alimentada pela combinação de elevação substancial dos preços do petróleo com a desvalorização cambial, colocando o dólar sempre acima dos R$ 5,00 e chegando a encostar nos R$ 6,00. Ambos os fatores de risco continuam: o petróleo segue pressionado pelo consumo mundial elevado e pela guerra da Rússia com a Ucrânia ao mesmo tempo em que a instabilidade política brasileira pode jogar o câmbio para patamares superiores aos atuais, fazendo o controle da inflação desandar. Juros para cima, PIB para baixo A maioria dos analistas, incluindo Itaú BBA e MB Associados, estima, que para conter a inflação em torno dos 5% este ano, o Banco Central pode pesar ainda mais a mão se a volatilidade romper os limites esperados puxando a Selic acima dos 13%, o que tem potencial empurrar o PIB quase 1% para baixo. “Os desequilíbrios das cadeias produtivas causados pela pandemia desde 2020 aumentaram a pressão inflacionária no mundo inteiro. Com isso, os estímulos ao crescimento já não são os mesmos. A economia mundial deverá crescer em 2022, mas com grandes diferenças entre países desenvolvidos e emergentes, que têm menos poder econômico”, avalia Pedro Renault. Ele exemplifica: “Nos Estados Unidos [para conter a inflação de 7% em 2021] o Fed deve subir o juro de 1% para 2% até o fim deste ano. Não é um cavalo-de-pau na economia como está acontecendo aqui”, indica. O juro brasileiro nas alturas, a maior taxa real do mundo, está deprimindo a economia, retirando renda do consumo e ampliando o desemprego, que no fim de 2021 atingia 12,4 milhões de pessoas, ou 11,6% da população ativa. Ao mesmo tempo, a renda mensal média dos ocupados – cada vez mais empurrados para o mercado informal, sem carteira assinada e com salário mais baixos – baixou de R$ 2.757 no fim de 2020 para R$ 2.444 um ano depois, o menor valor da série histórica iniciada pelo IBGE em 2012. Pedro Renault lembra ainda que não existem mais os mesmos estímulos ao crescimento de 2020 e 2021. Como exemplo, ele cita o Auxílio Brasil direcionado à população de baixa renda de até R$ 400 mensais, que em todo o ano de 2022 deverá injetar de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões extras em relação ao que faria o Bolsa Família, enquanto o antigo auxílio emergencial de R$ 600 distribuído em boa parte do primeiro ano da pandemia colocou mais de R$ 50 bilhões por mês na economia.
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