ANFIR | 35anos

ANFIR | 35 anos 28 Garçom mecânico Como mais de 1,2 milhão que deixaram a Itália após a Primeira Guerra (1914- 1918), a família Trivellato emigrou para o Brasil em 1923. A maioria desses italianos foi distribuída pelas fazendas de café do Estado de São Paulo. Mas a família do jovem Tri- vellato, adolescente de 14 anos, ficou na cidade de São Paulo. O pai, Cesário Trivellato, montara um hotelzinho com restaurante na Rua Mauá, defronte a Estação da Luz e queria que o filho trabalhasse como garçom. Mas Ernesto, apaixonado por carros como a maioria dos italianos, tinha outras ideias que não incluíam passar a vida servindo às mesas no restaurante da família. Em 1928, com 19 anos, começa a consertar carros no Vale do Anhangabaú, coração da cida- de de São Paulo, munido de uma caixa de ferramentas e um carrinho de rolimã – que lhe permitia deslizar para trabalhar debaixo dos carros. Cativando a freguesia, logo conseguiu se estabelecer e montar pequena oficina na Avenida São João, nº 1440, onde fazia tudo o que fosse relacionado com metais, mas principalmente consertos em carros, caminhões e soldagens, nas quais se tornaria perito. Crash da Bolsa e revolução Em 1928, quando Trivellato estreou sua oficina, o Brasil, para variar, vivia um momento de crise: era o país com a maior dívida externa da América Latina, seguido pela Argentina e Chile – segundo o historiador Boris Fausto no livro História concisa do Brasil. E o Brasil também andava na corda bamba, num agitado clima político que iria desaguar, dois anos depois, na Revolução de 30, que acabou com a Primeira República, depôs Washington Luiz e colocou Getúlio Vargas como ditador do Estado Novo. Só os juros da dívida externa consumiam 22% da receita das exportações no governo Washington Luiz. O jovem Trivellato, como todos, passou pelos maus bocados da crise internacional pro- vocada pela quebra de Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, mas soube tirar proveito dela. A derrubada do preço da saca de café acaba com as exportações e leva à falência a maioria dos cafeicultores paulistas – especialmente os que haviam tomado empréstimos a juros elevados para plantar café. A crise se reflete nas cidades, derrubando o consumo nas lojas e restaurantes chiques, mas fortalecendo as fabriquetas de bebidas, calçados, alimentos e as precárias oficinas de todos os tipos. A partir dos anos 1930 o Brasil – como grande parte dos países europeus e do resto do mundo – viveria uma grande crise econômica. Trivellato, entretanto, que tinha apenas curso primário feito na Itália, com sua enorme capacidade criativa e de trabalho, lentamente consolida sua oficina, que cresce e se transforma em indústria de fundo de quintal. Segundo o historiador Boris Fausto, com o drástico corte nas importações provocado pela crise na balança de pagamentos, “as pequenas oficinas de consertos foram se transformando em pequenas indústrias de máquinas e equipamentos”. Dois anos depois estoura a Revolução de 32: a elite paulistana – sem os sub- sídios federais concedidos aos cafeeiros pela Primeira República – revolta-se contra a ditadura Vargas. Ernesto Trivellato alista-se nas tropas paulistas e serve como mecânico de carros blindados, caminhões e locomotivas. Finda a revolução começa a namorar Edite

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