ANFIR | 35anos

ANFIR | 35 anos 29 Auler, paulistana e filha de alemães – que não viam com bons olhos seu amor pelo mecâ- nico italiano, operoso mas pobretão. – Minha mãe contava que depois que acabava o expediente na oficina, parte do noivado dela com Ernesto era ocupado em pedalar o fole de uma forja, onde era derre- tido piche que Trivellato utilizava para fabricar acumuladores – como eram chamadas as baterias naquela época. No ano seguinte Edite e Ernesto se casam – sem que nenhum parente dela com- parecesse à cerimônia – e um ano depois nascia Yvonne, a única filha do casal. Trivellato tinha 28 anos e uma oficina de automóveis, mas que se consolidava também pelos servi- ços de torno e solda. Casamento, gasogênio e ambulância No entanto, segundo a filha, o dinheiro era curto e os investimentos de Trivellato na própria oficina obrigavam a família a levar uma vida dura. Yvonne lembra que durante vários anos moraram numa pequeníssima casa de quatro cômodos, no bairro da Pompéia, onde por muito tempo ela dormiu no sofá da sala. A oficina crescia, mas sua transformação em indústria aconteceu no período da Segunda Guerra (1939-1945), especialmente depois que os Estados Unidos entraram no conflito mundial, após o ataque japonês a Pearl Harbor (1941). A gasolina americana passou a ser racionada no Brasil e entraram em cena os apa- relhos de gasogênio. Colocados nas traseiras de automóveis, caminhões ou ônibus, esses dispositivos, por meio de pequena fornalha, gaseificavam carvão – gás então era canalizado ao carburador substituindo a gasolina. Tanto a Ford quanto a General Motors brasileiras vendiam esses aparelhos nas suas revendas, mas centenas de oficinas, dentre as quais a de Trivellato, passaram a fabricá-los. Yvonne recorda que o carro da família na época era uma velha ambulância que Ernesto comprara sucateada e reformara totalmente. Terminada a guerra em 1945, o Brasil voltou a importar gasolina e, como não ha- via oleoduto de Santos para São Paulo, os derivados de petróleo eram transportados de caminhão para todo País. Abria-se assim um vasto leque de oportunidades para transpor- tadores, revendedores de implementos e cavalos-mecânicos, a maioria ainda importada. Interessado em entrar nesse rico mercado Trivellato embarca sozinho para a Suíça e Ale- manha em 1948. Queria ver de perto como os alemães construíam caminhões tanques. – No Brasil estava um calor tremendo e papai chegou ao aeroporto de Zurique, em dezembro, sob neve e só com um terno de linho branco – disse Yvonne, contando que ainda tem o caderninho do pai com as anotações do que via e aprendia nas fábricas euro- peias. A partir daí Trivellato dedica-se fortemente à fabricação e instalação de caminhões tanques e semirreboques. No ano seguinte, 1939, a FNM - Fábrica Nacional de Motores, criada por Getúlio Vargas em 1938 para fabricação e manutenção de motores dos aviões do Correio Aéreo Nacional – transforma-se em empresa de economia mista para montagem de caminhões. Os duzentos primeiros veículos foram da marca italiana Isotta-Fraschini, que um ano depois iria à falência na Itália, pondo fim à parceria. Dois anos mais tarde a FNM inicia

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