ANFIR | 35anos

ANFIR | 35 anos 68 Com a mecânica no sangue Não teve jeito. Segundo Noma, nem algumas sovas aplicadas pelo pai – que a mãe procurava evitar escondendo o filho embaixo de balaios – impediram que João largasse os estudos, após concluir o primário no Grupo Escolar Bartira, em Tupã, no Oeste paulista. A história, no entanto, terminou bem, na opinião de dona Takako. Ela volta os olhos para a longa trajetória da sua vida: “Quando casei, minha família não era rica. Pen- sava: ninguém vai humilhar meus filhos, vou trabalhar o que puder para isso. Graças a Deus está aí, porque nós começamos, né? Mas foi uma longa história de sacrifícios, uma verdadeira saga de imigrantes”. A vida dura dos imigrantes Os avós paternos – os Noma – os maternos – os Matsunaga – trocaram a região de Okayama, no Japão, pelo interior paulista na década de 20, estabelecendo-se primeiro em Lucélia, depois em Tupã. Após um período de trabalho duro em lavouras de algodão a família mudou-se para a cidade. Em Tupã, Riyoishi, o pai, comprou uma camionete Ford F-3 e passou a vender verduras. Mais tarde mudou-se para Pirapó, na época minúscula cidade ao lado de Apucarana (PR). Estava de olho no café, que então florescia no Norte do Esta- do. Mas uma geada alterou seus planos e Riyoishi acabou abrindo um armazém de secos e molhados. O novo negócio começou a crescer e o jovem João passava boa parte do seu tempo atrás do balcão vendendo “rabo-de-galo”, uma mistura de pinga com vermute. Era do comércio que João gostava. Porém, vítima de uma intriga de concorrentes, o velho Riyoishi, aborrecido, mudou-se mais uma vez, em dezembro de 1958, agora para Maringá, onde com- pra um caminhão FNM e passa a transportar café para o porto de Paranaguá. Em 1960, aos 14 anos, João Noma finalmente encontrou um ofício de que gosta- va. Tornou-se eletricista de caminhões e motores na oficina do japonês Toro Mima, a Ele- tro Mima, em Arapongas (PR). “Japonês tem essa mania de deixar o filho com um amigo para que ele aprenda alguma coisa, uma profissão”, conta João, lembrando que de volta a Maringá trabalhou duro, exigindo mais do que o recomendável do seu corpo adolescente. Mas persistiu, era ambicioso e obstinado. “Ser persistente para mim é um princípio de vida. Persistir, não desistir e, importan- te, não ser imediatista”, ensina João Noma, que se recorda de quando dedicava noites, feria- dos e finais de semana também para serviços elétricos em residências ou trocando fundos de panelas, baldes e bacias, colocando asas em latas de óleo, qualquer trabalho que desse um dinheirinho. Em qualquer atividade comercial, diz, o retorno só vem entre três e cinco anos. Outro princípio de vida perseguido e repetido era o de “dar um passo longo, mas não quebrar a cara”. “Pode-se até quebrar o nariz, mas não a cara, porque aí perde-se a identidade. E também, podemos sonhar grande, mas sem ser aventureiros.” A primeira oficina Foi o que aconteceu em 1962, aos 16 anos, quando resolveu comprar um torno mecânico e abrir uma oficina para caminhões. Convenceu os pais a ajudá-lo nesse inves- timento, que exigia também uma solda. Assim nasceu a Brasmecânica, montada ao lado

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